O projeto mais desafiador para o Lactec na área de meio ambiente, em seus 62 anos de história, foi o diagnóstico socioambiental dos danos decorrentes do rompimento da barragem de Fundão na bacia do rio Doce e região costeira adjacente. O desastre de proporções sem precedentes ocorreu em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, e deixou um rastro de destruição que, após quase seis anos, continua causando impactos à região.
Diante da importância desse trabalho, a pesquisadora do Lactec, engenheira ambiental Gleiciane de Carvalho Blanc, foi uma das convidadas do I Congresso Virtual Internacional da Abrampa – Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente – para apresentar os resultados obtidos ao longo de aproximadamente quatro anos de trabalho, no painel que debateu a Governança Ambiental e Mediação no Direito dos Desastres. O evento realizado, na última semana, teve como tema central A Crise Ambiental Brasileira: Perspectivas para Garantia da Efetividade do Direito Ambiental.
O trabalho realizado pelo Lactec, sob demanda do Ministério Público Federal (MPF) de Minas Gerais, envolveu mais de 300 profissionais de diferentes áreas do conhecimento e abrangeu o ambiente terrestre e atmosfera, ambientes aquáticos continentais, zona costeira e marinha, além do patrimônio cultural arqueológico, material e imaterial, da região afetada.
Os números macro apresentados apontam que a lama de rejeitos cobriu mais de 1,55 mil hectares de solo e degradou perto de 860 hectares de Mata Atlântica, além de ter causado a morte de mais de 11 toneladas de peixes. “Em uma dimensão técnica, estamos falando de um desastre de alta complexidade e de uma abrangência sem precedentes. Tivemos que inovar na abordagem metodológica, apoiando-nos em modelagens ecossistêmicas para entender todo o ambiente e como ele foi afetado”, afirmou a pesquisadora, lembrando que os métodos utilizados para a valoração econômica também foram inovadores para o Brasil.
Para Gleiciane, o diagnóstico dos impactos socioambientais e a valoração desses danos serão de extrema importância para o processo de reparação e recuperação da bacia do rio Doce e região costeira. Além disso, todo o conhecimento construído ao longo do projeto ficará como legado para a comunidade científica e órgãos ligados ao meio ambiente. “A gente torce para que um desastre como esse nunca mais aconteça, mas, como foi dito anteriormente aqui [no evento], sabemos que os riscos são enormes”, apontou a pesquisadora.